GAZA
- Daniela Bonafé

- 26 de nov.
- 1 min de leitura

São reféns eles dizem
no escuro não há
corpo que tenha dona
a criança explode
as partes voam a testa não se lembra
do carinho só voa
os dedos no bolo
de aniversário voam
um dia a mãe cuidou
para que ficasse limpa
e forte
mas nem as roupas
nem os dentes
um mar vermelho
engole
e eu morta como elas
faço poemas
não agradeço a
deus pelos meus
é uma afronta: palavra
alguma dá conta
são quarenta e dois
quilômetros
quero o sono
profundo de décadas
para os anos que já
duram milênios
no lombo carrego
também esse fardo
é pesado afundo no
escombro e sangro as
páginas
por favor ao menos a
salvação do nome
mas não somos
benditos
sentada na louça
sanitária entregue e só
meu rosto afundado
entre as mãos eu já fui
menina
pedimos socorro os
braços se erguem
a compaixão é uma
benção
que nunca chega a
galope
[nunca chega]
relógios dinheiros
fogos não param
só corações.




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